Entrevistas

ENTREVISTAS COM DOADORES #2: JOANITA KAROLESKI

Por Fundo Catarina - 13.10.2025

Da Seara à Amazônia, Joanita Karoleski inspira com uma trajetória de liderança humana, propósito e impacto social transformador.

Nascida em Botuverá, no interior de Santa Catarina, Joanita Karoleski construiu uma carreira admirável no mundo corporativo e é a segunda entrevistada da série de conversas com doadores do Fundo Catarina. De digitadora em uma fábrica de tecidos a CEO de uma das maiores empresas de alimentos do país, sua trajetória é marcada por coragem, versatilidade e uma liderança guiada por humildade e transparência.

Desde 2020, trocou o topo da hierarquia corporativa por um propósito que já cultivava há anos: dedicar-se integralmente a causas sociais e ambientais. Liderou o Fundo JBS pela Amazônia e, hoje, atua como conselheira em empresas e ONGs. Na interseção entre o setor privado e a sociedade civil, Joanita combina experiência executiva, visão estratégica e compromisso genuíno com a geração de impacto positivo.

Da pequena cidade ao comando de multinacionais

A história começa cedo, com uma mudança que exigiu independência e maturidade: sair de casa aos 14 anos para estudar.

“Comecei a morar fora já com essa idade. Me tornei independente desde cedo e sempre tive dentro de mim muita vontade de aprender sobre tudo. A leitura sempre foi minha companhia de vida.”

Essa curiosidade levou Joanita a buscar oportunidades em áreas diferentes e, ao mesmo tempo, a encarar cada transição como um projeto de aprendizado.

“Quem quiser criar seu próprio caminho, tem que criá-lo. Tem que definir e se desafiar”

Na faculdade, Joanita seguiu um caminho pouco convencional para a época. Ao escolher a graduação, fugiu das carreiras tradicionais e optou pelo recém-lançado curso tecnólogo em Processamento de Dados na FURB, atraída pela novidade de trabalhar com computadores. Foi uma decisão estratégica, já que conciliava os estudos com o trabalho para se manter e não poderia frequentar cursos diurnos como Engenharia Química ou Medicina. Em um ambiente predominantemente masculino, destacou-se pelo entusiasmo em aprender e pela determinação, qualidades incentivadas desde cedo pela família, especialmente pelo pai, que sempre a estimulou a olhar para o futuro e a investir no próprio potencial. A leitura, constante companheira, moldou seu jeito de ser, a ponto de trocar festas por livros, e reforçou seu perfil curioso e dedicado, características que se tornariam marcas da sua trajetória profissional.

“Ninguém vai cuidar da tua carreira ou do teu sucesso mais do que você mesmo.”

Para ela, deixar que outros decidam o rumo de sua trajetória é abrir mão do protagonismo, algo que sempre se recusou a fazer.

Foi assim que deixou a tecnologia para entrar na logística, depois avançou para o supply chain e, mais tarde, para o comercial, cada passo ampliando sua visão sistêmica. Essa versatilidade foi a base que a preparou para um dos maiores desafios de sua vida: liderar a Seara.

Liderança com propósito e resiliência

No início de sua jornada como CEO da Seara, Joanita descreve ter sentido o peso e a responsabilidade que a nova posição exigia. Ela relata que esse período foi marcado por uma imersão profunda nos detalhes do negócio, aliada a um esforço constante para ouvir, compreender e criar conexões genuínas com as pessoas. A liderança de Joanita é aquela que seta direções de forma clara e objetiva e da liberdade para que a equipe faça o seu melhor. Essa postura, segundo ela, foi fundamental para construir credibilidade e mobilizar o time, algo que se tornaria ainda mais relevante quando as crises testaram a resiliência de todos.

A presidência trouxe momentos decisivos. Durante a greve dos caminhoneiros e a Operação Carne Fraca, crises simultâneas testaram a solidez da empresa e a capacidade de liderança. Joanita optou por um caminho que privilegiava a confiança, o diálogo e a humildade.

“Primeira vez que acontece, não sei como resolver, e a gente vai fazer isso juntos.”

No auge da pressão, ela percebeu que o capital humano seria o principal diferencial para superar as dificuldades:

“Nessas situações que você vê a força de um time.”

Ela sabia que, em situações críticas, autoridade sem empatia afastaria as pessoas.

“As pessoas não querem seguir alguém que seja de comando e controle, que acha que sabe tudo e que dita regras.”

Esse estilo colaborativo não apenas acalmou ânimos, mas também fortaleceu o engajamento da equipe, que passou a se ver como parte ativa na resolução dos problemas.

Para Joanita, as qualidades mais determinantes na escolha de um executivo são humildade, abertura genuína para aprender continuamente e compartilhar conhecimento de forma generosa. Ela acredita que essas competências formam a base para uma liderança capaz de inspirar, engajar e gerar impacto de longo prazo.

A virada para o impacto social

Depois de anos no setor privado, veio a oportunidade de usar toda a bagagem corporativa em um novo cenário: o desenvolvimento socioambiental.

“Foi uma experiência extremamente gratificante. Entender um pouco esse outro Brasil, entender um pouco dos aspectos sociais, ambientais e sociais que temos como desafio”

O convite para liderar o Fundo JBS pela Amazônia significou mais que uma mudança de cargo, foi uma mudança de propósito. Joanita passou a dedicar sua energia a estruturar projetos que conectam conservação da floresta, desenvolvimento comunitário e geração de renda.

Educação, pesquisa e criação de oportunidades

Na visão de Joanita, formação acadêmica e experiência prática não são opostos, são complementares.

“A carreira técnica é super importante, ela oferece profundidade nos temas que você gosta e escolhe, mas não te impede de olhar para os lados e olhar para as oportunidades.”

Por isso, defende que universidades e empresas trabalhem mais próximas, criando programas de estágio que aproximem teoria e prática, e incentivem a permanência de talentos no país, com condições competitivas de desenvolvimento e reconhecimento.

Lições para mulheres que querem liderar

Com décadas em posições de destaque, Joanita reforça um ponto crucial para quem quer chegar ao topo: preparação antecipada.

“Esteja preparada sempre, não espere a oportunidade se criar para depois se preparar.”

Para ela, determinação, persistência e clareza de objetivos são ferramentas capazes de abrir caminhos para a liderança.

O esporte como metáfora de superação

Joanita sempre foi apaixonada por esportes e chegou a competir ainda jovem, participando de torneios de atletismo. Entre as modalidades que praticou, o tênis ocupa um lugar especial.

“Nos 200m rasos, na hora que eu olhava para o lado, só tinha gente que queria me passar para trás, naquela hora eu precisava estar no meu melhor para poder vencer”

Ela aprecia o tênis porque combina estratégia, resistência mental e adaptação, elementos que considera essenciais também para a vida profissional. A necessidade de desenvolver continuamente a técnica, a resiliência mental e a autoconfiança no jogo traduz, para ela, os mesmos desafios encontrados no mundo corporativo e na vida.

Reflexões sobre a aposentadoria

Joanita destaca que a aposentadoria no sentido antigo da palavra não cabe a ela.

“Eu preciso de movimento, eu preciso de socialização, e preciso que todo dia eu busque conhecimento novo. Atualmente, as mentorias e as participações em dois tipos de conselho me fazem ficar ativa o tempo todo e buscando oportunidades.”

Ao refletir sobre a própria trajetória, Joanita reconhece que carrega consigo duas grandes forças: a experiência acumulada ao longo dos anos e as conexões construídas pelo caminho. Para ela, o valor não está apenas em “fazer e entregar”, mas, sobretudo, nas pessoas com quem se caminha. Essas relações, cultivadas com cuidado, hoje potencializam seu trabalho e permitem ampliar o impacto das suas ações. Livre da rotina intensa da alta gestão, ela aceita convites diversos, experimenta novos projetos e dedica mais tempo à família, especialmente às duas filhas. É um equilíbrio que considera precioso.

Conteúdos que inspiram

Mesmo com uma agenda intensa, Joanita mantém o hábito de leitura como prática essencial.

Acho que cada vez mais o ser humano tem que buscar uma visão holística e não acessar só conhecimentos que estão no modelo mental atual.

Suas leituras técnicas abrangem temas como liderança. Entre os autores mais presentes, cita Simon Sinek, que oferece uma visão de liderança contemporânea, na direção humanizada e prestativa.

Já na frente de desenvolvimento pessoal, gosta de obras que exploram filosofia e o entendimento do ser humano. As obras indicadas por Joanita foram: “O Poder da Alegria” e “Sobre a felicidade: Uma viagem filosófica” – Frédéric Lenoir.

Por

Fundo Catarina


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